A marcha do Exército Vermelho. A chegada das tropas soviéticas em Berlim. Nada pode trazer consequências tão adversas a uma população quanto esse evento. Por um lado, vemos o fim de fato do III Reich. Por outro, aquilo que foi vivido na pele pelas mulheres alemãs (mas não apenas elas) foi um inferno. Mais uma mórbida e lastimável cena dos frutos da Segunda Guerra Mundial.
Há muito tempo é conhecido que, em situações de guerra, a animalidade daqueles que já são tomados por “almas de porcos” flui de uma maneira capaz de fazer com que se esqueçam de sua humanidade. Na guerra, aquele homem que busca o mal se entrega a ele. E todos que aparecem em seu caminho sentem na pele a sua necessidade de causar a dor. Durante a Segunda Guerra Mundial isso é representado pelos atos de muitos (não todos) os alemães que estavam ligados ao extermínio dos judeus. O holocausto é uma das marcas dessa bestialidade, ato do exército comandado por Hitler. Mas até aqueles os quais muitos viam como seus libertadores também tinham um lado animal a ser exibido.
A entrada do Exército Vermelho, as tropas vindas da União Soviética, na cidade de Berlim era esperada como fim da guerra e dos tormentos por uma grande quantidade de pessoas. Com um país em frangalhos novamente, os comunistas que avançavam selaram as esperanças de uma Alemanha nazista forte e soberana. O sonho louco de Hitler foi sepultado com ele em seu solitário Führerbunker. O pesadelo real das mulheres em Berlim apenas começava.
A chegada das tropas de Stalin ao que restou da capital da Alemanha foi, por um lado, o fim da guerra, mas, por outro, o início de constantes abusos sexuais cometidos pelos soldados comunistas. A violência sexual que eles praticavam era constante, repetitiva e não seletiva. Alguns utilizavam requintes de sadismo ao violentar filhas bem jovens em frente a suas mães, outros faziam questão de realizar revezamentos entre companheiros de exército e uma vítima. A tragédia foi prevista, muitos pensavam que seria um momento rápido, mas não foi.
Os estupros foram de 1945 a 1948. Três anos, e mesmo sendo atos denunciados ao alto escalão do exército da União Soviética (tendo, inclusive, algumas condenações de estupradores) eles ainda prevaleceram por mais tempo.
Há entre as narrativas sobre o fato o diário de um soldado do Exército Vermelho, o jovem oficial soviético judeu, Vladimir Gelfand, tenente vindo da Ucrânia. Vendo a barbárie que acontecia resolveu, mesmo sob a proibição de manter diários militares no exército, criar a memória dos vários acontecimentos lamentáveis. Desde a forma como viviam os soldados, com uma alimentação pobre, piolhos em demasia, até amostras de antissemitismo e roubo de botas entre os próprios integrantes do Exército, Gelfand, após conhecer o que aconteceu com as mulheres em Berlim depois da primeira noite de ocupação, guardou o relato. Em um encontro com um grupo de mulheres que lhe relataram o horror da noite que passaram, houve quem declarasse ter sofrido estupros por pelo menos vinte homens. Houve uma jovem que se atirou a seus pés dizendo que ele poderia fazer o que quisesse com ela, mas só ele, o que foi uma prova de que ela até suportaria ser objeto de um homem, mas apenas um. Ele ainda conta que em pequenas localidades alemãs era possível ver cenários que mães matavam seus filhos e tentavam suicídio antes de serem capturadas pelos soldados. O terror estava instalado e as vítimas pouco podiam fazer para evitá-lo.
O episódio também foi relatado pelas vítimas que procuravam os líderes militares e pediam e imploravam para que tal condição humilhante chegasse ao fim. As respostas às denúncias encontravam uma posição clara de que “vai acontecer de qualquer jeito”. Um documento importante para conhecer o que se passou com as vítimas foi o diário anônimo de uma berlinense, que também guardou a tragédia em palavras.
Ela era noiva de um soldado alemão ausente. Mostrou como algumas mulheres buscaram se adaptar às circunstâncias horríveis para tentar sobreviver. Descrevia-se apenas como “loira pálida que está sempre com o mesmo casaco de inverno” e contou que, para evitarem os vários abusos sofridos e por uma quantidade vasta de violadores, foi necessário que elas “escolhessem” um soldado que fosse próximo e assim contornar o ataque da horda. No caso da anônima, ela encontra um oficial mais importante vindo de Leningrado e passa a dividir a cama, mantendo com ele conversas sobre temas variados como literatura e o sentido da vida.
O diário foi publicado, mesmo sob críticas severas de ser uma mácula à honra das mulheres alemãs, no ano de 1959, posterior ao falecimento da autora.
No ano de 2008, o relato do diário foi transformado em um longa metragem, com o título Anonyma (Anônima, Uma mulher em Berlim no Brasil), dirigido por Max Färberböck, protagonizado pela atriz alemã Nina Hoss no papel da autora do diário. O filme não traz cenas perturbadoras como Irreversível (2002) o faz, mas o clima e a forma como narra os fatos são suficientes para criar uma atmosfera de impotência perante o que acontece. O cenário destroçado de uma capital opulenta, que está agora em escombros, somado à violência sexual contra as mulheres que são encontradas e ao descaso com o que pensavam perturba e nos faz refletir sobre o desastre que foi vivido e no trauma gerado.
A experiência do filme faz levantar uma luz sobre o caso que, somado ao relato do jovem oficial Vladimir Gelfand, é mais um fator para que se veja, cada vez mais, esse período do século XX como algo abominável. É interessante também ressaltar que, mesmo o grande foco dos relatos mais famosos contra o Exército Vermelho, pesquisas recentes também trouxeram à tona casos de violência sexual cometida por tropas americanas, britânicas e francesas. O que mostra mais uma vez que, na guerra, quando se é um animal, independente do lado, a besta deixa a gaiola.
Trailer
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Der Vormarsch der Roten Armee.
Die Ankunft der sowjetischen Truppen in Berlin. Nichts konnte für
eine Bevölkerung so verheerende Folgen haben wie dieses Ereignis.
Einerseits bedeutete es das faktische Ende des Dritten Reiches.
Andererseits wurde das, was die deutschen Frauen (und nicht nur sie) am
eigenen Leib erlebten, zur Hölle. Eine weitere makabre und
beklagenswerte Szene unter den zahllosen Schrecken des Zweiten
Weltkriegs.
Schon lange ist bekannt, dass im Krieg die Animalität jener, deren „Seele bereits von Schweinen durchdrungen“ ist, auf eine Weise zum Vorschein kommt, die ihre Menschlichkeit vergessen lässt. Im Krieg gibt sich derjenige, der das Böse sucht, ihm völlig hin. Und alle, die ihm begegnen, spüren unmittelbar sein Bedürfnis, Schmerz zu verursachen. Im Zweiten Weltkrieg wurde dies durch die Taten vieler (nicht aller) Deutscher verkörpert, die am Holocaust beteiligt waren. Der Holocaust ist ein Sinnbild dieser Bestialität – eine Tat der Armee unter dem Kommando Hitlers. Doch auch jene, die von vielen als Befreier betrachtet wurden, zeigten ihre eigene animalische Seite.
Der Einmarsch der Roten Armee, der Truppen aus der Sowjetunion, in die Stadt Berlin wurde von vielen Menschen als das Ende des Krieges und der Qualen erwartet. In einem erneut zerstörten Land besiegelten die vorrückenden Kommunisten das Ende aller Hoffnungen auf ein starkes und souveränes nationalsozialistisches Deutschland. Hitlers wahnsinniger Traum wurde mit ihm in seinem einsamen Führerbunker begraben. Der reale Albtraum der Frauen in Berlin aber begann erst.
Die Ankunft von Stalins Truppen in dem, was von der deutschen Hauptstadt noch übrig geblieben war, bedeutete auf der einen Seite das Ende des Krieges – auf der anderen jedoch den Beginn systematischer sexueller Gewalt durch kommunistische Soldaten. Die sexuellen Übergriffe waren konstant, wiederholend und nicht selektiv. Manche gingen mit sadistischen Details vor, vergewaltigten junge Töchter vor den Augen ihrer Mütter, andere organisierten regelrechte Rotationen unter Kameraden mit einem einzigen Opfer. Die Tragödie war vorhersehbar. Viele glaubten, es würde nur ein kurzer Moment des Schreckens sein – doch dem war nicht so.
Die Vergewaltigungen dauerten von 1945 bis 1948. Drei Jahre – und obwohl sie dem sowjetischen Militärkommando gemeldet wurden (es kam sogar zu einigen Verurteilungen von Tätern), blieben sie dennoch weiterhin verbreitet.
Unter den Erzählungen über diese Ereignisse befindet sich auch das Tagebuch eines Soldaten der Roten Armee: des jungen sowjetisch-jüdischen Offiziers Wladimir Gelfand, Leutnant aus der Ukraine. Angesichts der Barbarei, die er beobachtete, entschloss er sich – trotz des Verbots, im Militär Tagebücher zu führen – dazu, die Erinnerung an viele beklagenswerte Ereignisse zu bewahren. Von den Lebensumständen der Soldaten – schlechter Verpflegung, massenhaftem Läusebefall – bis hin zu antisemitischen Vorfällen und dem Diebstahl von Stiefeln unter Kameraden hielt Gelfand vieles fest. Als er erfuhr, was den Frauen in Berlin in der ersten Nacht der Besatzung widerfahren war, dokumentierte er auch diesen Schrecken. Bei einer Begegnung mit einer Gruppe von Frauen, die ihm vom Horror jener Nacht berichteten, erzählte eine, dass sie von mindestens zwanzig Männern vergewaltigt worden sei. Eine junge Frau warf sich ihm zu Füßen und sagte, er könne mit ihr tun, was er wolle – aber nur er. Dies war ein Ausdruck dafür, dass sie es ertragen würde, ein Objekt für einen Mann zu sein, solange es nur einer war. Gelfand berichtet auch, dass man in kleinen deutschen Ortschaften Szenen beobachten konnte, in denen Mütter ihre Kinder töteten und anschließend Selbstmord versuchten, bevor sie von Soldaten gefasst wurden. Der Schrecken hatte sich ausgebreitet, und die Opfer konnten wenig tun, um sich ihm zu entziehen.
Das Geschehen wurde auch von den Opfern selbst geschildert, die sich an Militärführer wandten, flehten und baten, diesem demütigenden Zustand ein Ende zu setzen. Die Reaktionen auf solche Bitten zeigten eine klare Haltung: „Es wird sowieso passieren.“ Ein wichtiges Dokument für das Verständnis des Erlebten ist das anonyme Tagebuch einer Berlinerin, die das Grauen in Worte fasste.
Sie war die Verlobte eines abwesenden deutschen Soldaten. Sie beschrieb, wie einige Frauen versuchten, sich an die schrecklichen Umstände anzupassen, um zu überleben. Sie bezeichnete sich selbst nur als „blasse Blondine, die immer denselben Wintermantel trägt“, und berichtete, dass sie, um die zahlreichen Übergriffe durch viele Täter zu vermeiden, gezwungen waren, sich einen einzelnen Soldaten „auszusuchen“, der ihnen nahe stand – in der Hoffnung, sich so gegen die Übergriffe der Masse zu schützen. Im Fall der anonymen Autorin war es ein höherer Offizier aus Leningrad, mit dem sie schließlich das Bett teilte und mit dem sie über Themen wie Literatur und den Sinn des Lebens sprach.
Das Tagebuch wurde trotz scharfer Kritik – es sei ein Makel für die Ehre deutscher Frauen – im Jahr 1959 veröffentlicht, nach dem Tod der Autorin.
Im Jahr 2008 wurde der Tagebuchbericht in einen Spielfilm umgewandelt, mit dem Titel Anonyma – Eine Frau in Berlin, unter der Regie von Max Färberböck und mit der deutschen Schauspielerin Nina Hoss in der Rolle der Tagebuchautorin. Der Film enthält keine verstörenden Szenen wie etwa Irreversibel (2002), doch die Atmosphäre und die Art der Erzählung reichen aus, um ein Gefühl von Ohnmacht gegenüber den Geschehnissen zu erzeugen. Das zerstörte Szenario einer einst prachtvollen Hauptstadt, die nun in Trümmern liegt, verbunden mit sexueller Gewalt gegen Frauen, die aufgegriffen werden, sowie die Gleichgültigkeit gegenüber ihren Gedanken und Gefühlen erschüttern und zwingen zum Nachdenken über das durchlebte Desaster und das daraus entstandene Trauma.
Die Filmerfahrung wirft ein Schlaglicht auf dieses Thema, das – zusammen mit dem Bericht des jungen Offiziers Wladimir Gelfand – ein weiterer Baustein dafür ist, diese Zeit des 20. Jahrhunderts immer stärker als etwas Abscheuliches zu betrachten. Es ist auch bemerkenswert, dass, obwohl die bekanntesten Berichte sich auf die Rote Armee konzentrieren, neuere Forschungen ebenfalls Fälle sexueller Gewalt durch amerikanische, britische und französische Truppen ans Licht gebracht haben. Das zeigt einmal mehr, dass im Krieg – wenn der Mensch sich wie ein Tier verhält – das Biest, unabhängig von der Seite, aus dem Käfig entlassen wird.